O Papa Francisco advertiu na sexta-feira contra “os ideólogos” que tornam “incompreensível e falsificam” o Evangelho, sublinhando que a mensagem cristã foi recuperada na História por vários ideólogos e “moralistas sem bondade”.
“Quando a ideologia entra na Igreja, quando a ideologia se quer imiscuir na compreensão do Evangelho, deixamos de compreender”, afirmou Francisco na homilia diária, perante os funcionários do Vaticano, na capela da Casa de Santa Marta, onde reside.
O Papa abordou a questão da ideologia, um tema sensível para a Igreja, particularmente na América Latina, onde as ideologias conservadoras de extrema direita e radicais de esquerda tentaram reinterpretar o Evangelho.
A “teologia da libertação” foi fortemente condenada por Roma, uma vez que se aproximava dos ideiais marxistas, e o cardeal argentino Jorge Bergoglio sempre defendeu a linha vaticana, ao mesmo tempo que aprovava “a opção preferencial pelos pobres”.
De acordo com excertos difundidos pela Rádio Vaticano, o Papa criticou “os doutores, que respondem apenas com o cérebro, quando “a palavra de Jesus vem do coração”.
Eles “são os grandes ideólogos, cortam o caminho do amor, e também o da beleza. Estes ideólogos falsificam o Evangelho. Qualquer interpretação ideológica, venha de que lado vier, é uma falsificação do Evangelho”, sublinhou.
“Estes ideólogos – já vistos na história da Igreja – acabam por ser intelectuais sem talento, moralistas sem bondade. Nem falemos de beleza, da qual não percebem nada”, declarou Francisco.
* Igreja não deve ser ‘baby-sitter’
O Papa Francisco rejeitou uma Igreja feita de rotinas, em que os fiéis se contentam com o baptismo e que seria apenas uma simples “baby-sitter”, cuja missão seria adormecer as crianças que lhe foram confiadas.
“Por vezes, pensamos: fui baptizado, fiz a primeira comunhão, a confirmação, o meu bilhete de identidade está em ordem. Agora posso dormir tranquilo: sou cristão”, observou, durante a missa diária na Casa de Santa Marta, no seu estilo simples e cheio de imagens.
“Mas onde está a força do Espírito que te faz avançar?”, disse, pedindo uma Igreja “mãe”, cujas crianças se sentem levadas a transmitir a mensagem que receberam.
Quando isto não é feito, a Igreja não se transforma numa mãe, mas numa ‘baby-sitter’, cuja função é adormecer a criança, lamentou Francisco.
“A Igreja não pode ser uma ‘baby-sitter’ para os cristãos, deve ser uma mãe e é por esta razão que os laicos devem assumir as suas responsabilidades de baptizados”, disse perante os funcionários do Banco do Vaticano, o IOR, pedindo aos católicos que saiam de si mesmos, dos pensamentos habituais e dos caminhos já percorridos.
O novo Papa argentino vive na Casa de Santa Marta desde que foi eleito, a 13 de março, e ainda não se mudou para o apartamento papal.
Francisco celebra todos os dias missa na capela desta Casa, recebendo diferentes categorias de funcionários do Vaticano.
* Papa reza pelas vítimas do sismo no Irão e Paquistão
O Papa Francisco expressou na quarta-feira “tristeza” e rezou pelas vítimas do sismo que atingiu o Irão e o Paquistão, perante 50 mil fiéis na Praça de São Pedro.
“Rezo pelas vítimas e por todos os que sofrem, e quero manifestar ao povo iraniano e ao povo paquistanês o meu sentimento de proximidade”, afirmou no final da audiência geral semanal.
Um sismo de 7,8 de magnitude na escala de Richter atingiu o sudeste do Irão e a província do Baluchistão, no Paquistão, causando dezenas de mortos e centenas de feridos.
Antes do início da audiência geral semanal, Francisco deu, como já é hábito desde que iniciou o pontificado, uma longa volta pela praça num jipe descoberto, beijando várias crianças.
Durante a catequese, o Papa proferiu, em italiano, uma mensagem de confiança, re-correndo à imagem de um advogado que defende quem foi acusado.
“Ele (Jesus) é o nosso advogado, que continua a defender-nos das armadilhas do diabo, de nós mesmos, dos nossos pecados!”, afirmou.
“Não devemos ter medo de pedir perdão e misericórdia. Nunca estamos sós, porque temos este advogado”, repetiu.