Portugal garantiu a presença nos oitavos de final do Mundial de futebol de 2010, depois de empatar a zero com o Brasil, num encontro do Grupo G muito intenso, mas sem grandes oportunidades.
Em Durban, o encontro, que se esperava que tivesse ritmo baixo, porque o Brasil estava apurado e Portugal quase, teve, na primeira parte, a intensidade de um jogo decisivo, com muitas faltas, algumas das quais duras, com os primeiros 45 minutos a terminarem com sete amarelos.
No segundo tempo, as equipas acalmaram e passaram a jogar, sobretudo nos 15 minutos finais, quase a passo, o que valeu alguns assobios das bancadas.
Com este resultado, Portugal somou o 19.º encontro consecutivo sem perder, igualando um anterior recorde, e terminou a oitava partida oficial sem consentir qualquer golo.
Tal como tinha anunciado na véspera, o selecionador português, Carlos Queiroz, não poupou o “amarelado” Cristiano Ronaldo e fez algumas alterações táticas, tendo em conta a forma como o Brasil joga.
Assim, Queiroz colocou Ri-cardo Costa na lateral direita, onde costuma jogar Robinho – que deu lugar a Nilmar –, e colocou Duda e Danny nas alas e Cristiano Ronaldo na frente de ataque.
Quando Portugal defendia, a equipa posicionava-se em 4-5-1, com claras preocupações para as subidas dos laterais brasileiros e Ronaldo como único homem na frente de ataque, adiantando-se Duda e Danny quando a equipa tinha a bola.
Com mais bola, o Brasil ia chegando mais perto da área, mas sem grande perigo, en-quanto Portugal dependia muito das subidas de Fábio Coentrão, que conseguiu os dois cruzamento mais perigosos da equipa das “quinas” na primeira parte.
Num jogo muito intenso e com algumas faltas duras, a primeira oportunidade de golo surgiu apenas aos 30 minutos e no primeiro erro da defesa lusa, que permitiu que Nilmar surgisse solto ao segundo poste, valendo a intervenção de Eduardo, que desviou a bola para o poste direito.
Na resposta, também Portugal podia ter criado perigo, mas Danny e Tiago, em boa posição, não remataram à baliza de Júlio César.
Aos 39 minutos, a defesa portuguesa voltou a dar espaço aos avançados brasileiros e Luis Fabiano, no meio de Ricardo Costa e Ricardo Carvalho atirou ligeiramente ao lado.
Ainda antes do intervalo, o selecionador brasileiro, Carlos Dunga, tirou do campo Felipe Melo, que tinha acabado de ver um amarelo, depois de uma entrada muito dura sobre Pepe, que serviu de “vingança” a um lance anterior.
Na segunda parte, o ritmo da partida baixou drasticamente, assim como a intensidade dos jogadores, tendo Portugal disposto das duas primeiras oportunidades dos segundos 45 minutos, ambas protagonizadas por Cristiano Ronaldo.
No primeiro lance, aos 48 minutos, o “capitão” luso isolou-se e tentou oferecer o golo a Danny, valendo o corte de Lúcio, que viria a estar envolvido na segunda situação, ao cortar uma bola a Ronaldo, com esta a sobrar para Meireles, tendo Júlio César evitado o golo.
Eduardo voltou a brilhar já em período de descontos, quando um remate do benfiquista Ramires, entretanto entrado, bateu nas costas de Bruno Alves, obrigando o guarda redes a excelente defesa. O empate premeia as duas equipas, pois as situacões de golo foram idênticas.
FICHA DE JOGO
Encontro no Estádio Moses Mabhida, em Durban.
Portugal – Brasil, 0-0.
Equipas:
Portugal: Eduardo, Ricardo Costa, Ricardo Carvalho, Bruno Alves, Fábio Coentrão, Pe-pe (Pedro Mendes, 64), Raul Meireles (Miguel Veloso, 84), Tiago, Duda (Simão, 54), Danny e Cristiano Ronaldo.
Brasil: Júlio César, Maicon, Lúcio, Juan, Michel Bastos, Gilberto Silva, Felipe Melo (Josué, 44), Daniel Alves, Júlio Baptista (Ramires, 82), Luis Fabiano (Grafite, 85) e Nilmar.
Árbitro: Benito Archundia (México).
Acção disciplinar: Cartão amarelo para Luís Fabiano (15), Juan (25), Duda (25), Tiago (31), Pepe (40), Felipe Melo (43) e F.Coentrão (45).
Assistência: 62 712 espetadores.
REACÇÕES NO FINAL DO ENCONTRO;
Carlos Queiroz, seleccionador de Portugal:
Fizémos 26 jogos desde que cheguei e não sofremos golos em 22. Só sofremos golos em quatro partidas.
Mas as estatísticas e a reputação, quando o jogo começa, não ganham jogos. Mas claro que são indicadores que nos inspiram para estarmos mais confiantes”.
Cristiano Ronaldo foi eleito como o melhor em campo. Se pudesse escolher, quem escolheria?
“Se eu pudesse eleger um jogador elegia um jogador que se chama equipa, a de Portugal. Acho que o colectivo merecia esse prémio individual”.
Houve um lance na área de Portugal que podia ter dado penalty. Qual a sua opinião?
“Acho que é melhor não fazer comentários sobre a arbitragem”.
Que análise é que faz do jogo?
“Acho que o Brasil entrou no jogo muito forte. Nos entrámos de fato-macaco e, quando foi possível, jogámos de smoking”.
Que equipa prefere nos oitavos-de-final? Suíça, Espanha ou Chile?
“Só não quero jogar contra as três (risos). Mais a sério, queremos é recuperar os joga-dores e celebrar este apuramento. Vamos esperar e depois iremos preparar a partida.
Dois jornalistas brasileiros foram detidos pela polícia, acusados de espionagem à equipa portuguesa. Que comentário isso lhe merece?
“Agora é que percebo por que o Brasil entrou daquela maneira no jogo. Se for verdade, é bem feito.”
O que aprendeu a equipa de Portugal com os 6-2 do jogo de Gama?
“Já tínhamos cometido alguns erros anteriormente. Em casa frente à Dinamarca tínhamos a vitória na mão e os jogadores desconcentraram-se. Temos de ter sempre a mesma disciplina. Em Gama fizemos 20 minutos iniciais bom, fizémos um golo e depois deslumbrámo-nos.
Ninguém pode estar a jogar contra o Brasil, no Brasil, e pensar que vai ganhar dez a zero. Esse jogo ficou gravado no nosso registo.”
Dunga, seleccionador do Brasil, criticou a postura da selecção portuguesa durante o encontro:
“Quanto à primeira parte, o que esteve na origem das faltas, eu devolvo a questão para o Carlos Queiroz.
O Brasil já estava classificado. Se virmos os cartões amarelos, já percebemos a resposta a essa pergunta.
A equipa adversária não queria atacar, a minha procurou sempre atacar, mesmo sabendo que a vantagem era nossa.
É essa a característica do Brasil. Quando jogam contra o Brasil, as selecções têm um cuidado especial. Com a vontade do Brasil ganhar, forçámos muito o jogo pelo meio, enquanto eu preferia que fosse pelas laterais.”
Fábio Coentrão, defesa da selecção nacional:
“Demonstrámos que podemos chegar longe no Mundial, mesmo não sendo um jogo muito bonito.
Não foi possível marcar golos e depois pensámos em defender, porque um pontinho permitia-nos seguir no Mundial. Já disse que aqui não ligo a nomes, penso que essa é uma qualidade minha.
Venha quem vier, estamos preparados. Acredito que vamos estar nos quartos-de-final.
O Ramires entrou com toda a força, mas já o conheço bem. No fim, dei-lhe um grande abraço. Fico feliz por o ver a jogar na selecção do Brasil.
Saia quem sair do Benfica, o Benfica terá uma boa equipa. Claro que ficaria feliz se Luisão, Di María ou Ramires ficassem no Benfica, mas isso não me diz respeito a mim.”
Após vários meses de interrogação, devido a uma lesão grave, Pepe conseguiu representar a Selecção Nacional no Campeonato do Mundo.
‘Valeu a pena todo o esforço, todos os meses de trabalho e dedicação. Agradeço a todas as pessoas que estiveram do meu lado. Esta qualificação e este jogo são dedicados a eles.”
Foi um jogo especial para si?
“Já deixei bem claro o amor que eu tenho por Portugal.
Sinto-me mais português do que brasileiro. Vivo muito este país, e ainda devo muito às pessoas.”
Sobre os oitavos-de-final?
“Temos de estar preparados para qualquer selecção”
Sentiu-se bem?
“Senti-me à vontade, com capacidade para ajudar o meu país.”
Bruno Alves, defesa da selecção nacional:
“Neste momento, estou concentradíssimo na selecção.
Tenho que dizer que o F.C. Porto é o meu clube, o clube com o qual tenho contrato.
Tenho objectivos na minha vida, mas se não os conseguir alcançar, continuarei da mesma forma.
O F.C. Porto proporcionou-me muita coisa, sou muito grato ao F.C. Porto. Eternamente grato. Foi o clube que me lançou para o Mundo”.